Um estudo canadense controlado, randomizado, duplo cego, liderado pelo Dr. Bernard Zinman, e publicado online hoje (02/06/10) no conceituado Jornal Lancet traz excelentes notícias sobre a prevenção do diabetes tipo 2.
O estudo
207 pacientes com pré diabetes (intolerância a glicose) foram avaliados em diversos centros do Canadá. Eles foram randomicamente divididos em dois grupos. O primeiro grupo receberia placebo (104 pacientes), o segundo baixas doses de rosiglitazona (2mg) e metformina (500mg) (103 pacientes). Nem o médico, nem o paciente sabiam qual remédio estava sendo usado (duplo-cego). O estudo foi registrado no Clinical Trials.
Todos os pacientes foram submetidos à intervenção de mudança de estilo de vida com foco no emagrecimento e atividade física.
O desfecho primário do trabalho era saber quantos pacientes com pré diabetes evoluiriam para o diabetes. Para isso era necessário pelo menos duas medidas de glicemia de jejum acima de 126 mg/dl ou um teste de tolerância à glicose alterado.
Resultados
O período de seguimento médio foi de 45 meses (3.9 anos). No grupo que usou rosiglitazona associada a metformina em baixas doses, 14 pacientes (14%) evoluíram para diabetes, e no grupo placebo 41 pacientes (39%) evoluíram para diabetes. Houve então uma redução de risco relativo para desenvolver diabetes de 66% (IC 95%41-80) . Quando olhamos o risco absoluto a redução foi de 26% (14-37). Isso leva a um NNT (número de pacientes que precisam ser tratados) de 4 pacientes.
Em 80% dos pacientes do grupo tratado a glicose retornou a valores normais, o mesmo ocorrendo com 53% do grupo placebo. Houve uma diferença estatística importante. (p=0,0002).
Não houve diferença de peso entre os dois grupos ao final do estudo. O mesmo aconteceu com a circunferência abdominal e a relação cintura quadril. De forma interessante o colesterol total diminuiu mais no grupo placebo.
Não houve diferença na incidência de fraturas entre os dois grupos. Houve melhora no perfil hepático nos pacientes tratados e diminuição da proteína C reativa.
O HOMA IR foi melhor no grupo tratado, porém o índice de sensibilidade insulínica medido pelo TTOG foi melhor no grupo placebo, o que é de bem difícil entendimento. Os autores não forneceram maiores detalhes no trabalho.
Conclusão do estudo
Dados do estudo CANOE mostraram que a combinação de rosiglitazona com metformina, com metade da dose máxima foi altamente eficaz na prevenção da diabetes e na normalização da glicose tolerância em indivíduos com IGT, com pouco efeito adversos clinicamente relevantes destas duas drogas.
Os pontos fracos do estudo
Os autores ressaltam que o estudo não foi desenhado para análise de efeitos adversos cardiovasculares em longo prazo, com certeza um grande questionamento atual sobre as glitazonas. O pequeno número de participantes impediu uma análise mais aprofundada sobre a função da célula beta e da resistência insulínica.
É importante uma análise posterior criteriosa do custo-benefício em se usar esse tipo de medicamento na prevenção.
O último item a ser esclarecido é até quando esse trabalho aborda a prevenção ou o tratamento precoce do diabetes tipo 2.