Todas as vezes que aumentamos o consumo de nutrientes ricos em glicose, isso desencadeia uma série de reações enzimáticas em nosso organismo. Por outros mecanismos não enzimáticos, o aumento da glicose promove a glicação da hemoglobina A, presente nas nossas hemácias e assim temos o teste da hemoglobina glicada, que nos dá uma média da glicose nos últimos 3 meses. Isso porém nos mostra sempre uma fotografia tirada do passado, onde podemos atuar somente de forma reativa.
Cientistas do Johns Hopkins, um hospital universitário em Baltimore, Maryland, Estados Unidos vem pesquisando há algum tempo uma substância chamada O-GlcNAc, (pronuncia-se – oh-GLICK-nack). Essa substância de difícil dosagem aumenta em resposta a ingesta de nutrientes ricos em carbohidratos e ao stress. A equipe do Johns Hopkins sabia que a pequena molécula está elevada nas hemácias de pacientes com diabetes mas a grande questão era saber se a elevação aconteceu nos primeiros estágios da diabetes e, portanto, pode ter valor como uma ferramenta de diagnóstico.
Para descobrir, Kyoungsook Park, um estudante de química biológica que trabalha no laboratório coordenado pelo Dr. Gerald Hart, pesquisou os níveis de O-GlcNAcase, uma enzima que retira O-GlcNAc das hemácias. Isso porque a enzima O-GlcNAcase é muito fácil de ser dosada. O-GlcNAc modifica algumas proteínas da célula para controlar suas funções, em resposta aos nutrientes e stress. Nutrientes, como glicose e lipídios, modificam a forma como a O-GlcNAc interfere na atividade dessas proteínas. Quando o grau de O-GlcNAc ligado às proteínas se torna muito alto, como ocorre no diabetes, isso se torna prejudicial para a célula.
Dra. Park promoveu uma purificação das hemácias, retirando um de seus principais constituintes, a hemoglobina. As amostras foram coletadas por duas fontes – o Instituto Nacional de Diabetes, Doenças Digestivas e Renais, ou NIDDK, e Johns Hopkins Diabetes Center, em colaboração com Christopher D. Saudek, MD – e caracterizada como normal (36 amostras), pré-diabetes (13 amostras) e diabetes tipo 2 (53 amostras) de acordo com testes tradicionais, que requerem o jejum do paciente.
O resultado mostrou que as concentrações de O-GlcNAcase são 2-3 vezes maiores no pré diabetes quando comparados ao grupo controle com tolerância normal a glicose.
Isso pode ser de muita utilidade em estudos epidemiológicos, em famílias com predisposição a diabetes tipo 2, em populações de risco como idosos, obesos, implementando-se medidas mais intensivas de prevenção ou eventualmente tratamentos que tem se mostrado eficazes na prevenção do DM2. A vantagem seria a estabilidade e ausência de interferência do jejum, visto que uma grande parcela dos pacientes modifica muito a dieta antes do exame. Com a dosagem da enzima O-GlcNAcase evitaria-se esse viés.